Ser flor
É segurar a
dor do parto no caule.
Ter tronco
de lágrima caída
tão doída
que jamais se foi.
Ser flor é
também ser fruta
Truta
fresca sem tempero
Cheiro e
sabor
que se medra
e não se entende.
É ter olhos
fundos da noite
E balançar
na manhã que avisa.
É boca seca:
silêncio
afoito
calado na
beleza.
Ser flor
tem um
pouco de tristeza
Da
antecipação de figurar o amor de outrem
De morar em
vasos de água fria
postos no
alto
de um lar
alheio ao ar
e ao chão
de terra.
É ter vida
curta
E
relevância de pétalas.
É não
saber-se completa
No meio de
um buquê.
É ser sem
porquê
À serviço
de quem
não se
presta a olhar o não-belo.
Ser flor é
mero
presente.
Ou mora
em memória
Ou em
jardim
Ou em cima
da gente.
Ilustração: Gabriel Araújo
Ilustração: Gabriel Araújo