Não sei o
que fazer com o meu amor ao mar. Ninguém entende como lubrifica os olhos olhar
as ondas descerem como desce a calda no sorvete. Se unirem como mãos. Se
resolverem no fim, como nada. Olho o mar e a minha paz impera. Existe sem
porquê. Sai pelos poros em inércia e luz. Pega oxigênio e maresia, solta
suspiros e poesia. Embora não me entregue ao mar ao longe, não reine sobre ele
sobre placas que me deixem em pé, não fure com os braços as ondas respirando
alternadamente do lado direito ou esquerdo, estou em bons termos com sua
existência. Caminhar com ele ao lado é quieto, ver o corte dele no horizonte é
reto. Saber ser ele longínquo, bonito e constante, como a saudade que me filtra
os chakras, é certo.
terça-feira, 31 de março de 2015
segunda-feira, 9 de março de 2015
[BÊ ÉRRE]
Estou à
bordo de um veículo que não navega. Nele embarquei, dele vou desembarcar.
Dentro dele se permite sonhar. Sonhamos eu e os outros. Democráticos no nosso
espaço, silêncio e sono. Com o barulho e o tremor vamos sentindo que vamos,
passíveis do condutor. Aqui cruzamos os braços, contamos eucalíptos, imaginamos
de onde vem os animais que se alimentam do pasto que parece infinito. Se pensa
sobre as casas no meio do nada, sobre as barracas de castanhas e laranjas. Castanhas
em pacotes, laranjas em rede. Meninos com sede que vão e vem abastecer as
prateleiras de madeira e pendurar nos pregos frutas frescas.
No
anoitecer o escuro é denso, na viração o sol é intenso. Moscas de luz, rajadas,
mosquitos de chuva, água. Sereno que desce do céu sem se ver. Há as montanhas
de perto, há as que mais parecem sombras. Background pintado de filme dos anos
30. Quase não há gente, consenso coletivo em fingir não-solidão. Pode haver
música nas orelhas, lápis e papel no colo, telefone na mão, mãos sobre a cabeça
ou atrás dela. Pés no chão ou em apoiadores. Quilômetros que vão, quilômetros
que vento. Ouvir o lado de fora não deixa ouvir o lado de dentro.
Há as
memórias que vem, que em nada dialogam com a paisagem, mas que –penso --,
precisam de paz de espírito para fazer passagem. Paz essa, da qual inclusive
disfruto para seguir viagem.
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