domingo, 15 de dezembro de 2013

[COR]

Colore
Contrasta
Contra-ilumina
Couraça –
Carcaça culmina.

Comanda
Cumadre
Cumpadre,
sina.
Concorda
Acorda
Retina.

Confunde
Cria
Compara.
Comede
Conclave
Concorde.

Canta.
Toca.
Comove.
Encanta
Chora
Chove.

Clara
bóia,
Cara
bina.
Comprido
 caminho
de chão.

Cara
a cara
Consigo -
Caia
a ficha
do óbvio.
Cor:

Quem é que não tem?

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

[DANÇA E SINA]


O tempo é tão sábio.

Eu o vejo passar, tranquilo e compassado diante dos meus olhos, me dizendo que preciso compreendê-lo. Seguir seus passos, talvez. Observar sua constância. Eu preciso dele, ele não precisa de mim. É curioso e incômodo. Às vezes é lindo - quando no balanço dele eu percebo que a delicadeza com que ele se move me devia consolar. E consola.

O tempo é tão sábio.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

[PRIMEIRA NOTA]

Pena.
Sentimento sólido
Polido
Impróprio em seu fim.

Penar.
Trabalhar insólito
Calado
Suado enfim.

Esse penar
que não vale à pena
- estar só e não poder
apenas
dividir em copos afins

Essa pena tão pena de mim.

sábado, 23 de novembro de 2013

[ESTA]


Sou de uma geração
que desconhece a coragem que já teve
que reconhece que não está
a par do que merece.
Que esquece.
Que carece de líderes morais,
padece de mazelas mortais,
sofre de problemas reais,
tais quais
os de outras gerações
que se levantavam mais.

Desta geração, outra sai.
De um sair doído,
romantismo perdido -
vão nascer nostálgicos.
Dessa nostalgia que não sabemos do quê,
Pra onde,
Quando,
Por quê.
Esta

Que nada mais é que a nossa cara.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

[LÉXICO DUVIDOSO]


Sempre me confundiu a terminologia
peso pesado.
Sabendo eu que peso pesado é o do pobre
que vai à feira de ônibus
e atrofia os ombros
com o sustento pra quatro filhos.
Que carrega água no lombo
de sol a sol.
Que segura menino já grande
que tem preguiça de caminhar.
Que chega à igreja suado porque precisa rezar
Descarregar o fardo do consciente
Preparar a cabeça para o batente
Sair dali contente,
pra de peso
em peso pesado
voltar
e de peso
em peso pesado

viver.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

[SEM OLHAR A QUEM]


Não sei porquê rezo. Às vezes rezo em voz alta para exorcizar a poeira ruim que o dia incutiu em mim. Às vezes rezo em pensamento. Rezo pra o vento. Sempre rezo às árvores que respondem farfalhando. Rezo a uma força maior que eu que não sei que nome tem. Rezo sempre por mais alguém. Pra que mais fé chegue em outros lados. Rezo cansado. De braços cruzados, corcunda e respirando pouco. Narro a minha fé nas palavras que melhor me cabem. Pego nela o bem que posso eu mesmo ter. Quando acordo, rezo, daí levanto. Quando deito, rezo então durmo. Rezo diurno e noturno. Com e sem energia, com e sem calma, sempre de coração na mão. Rezo pela emoção. Pra ser um pouco mais humano. Para jamais esquecer de olhar ao meu redor. De querer o bem, fazer o bem, e esperar a roda viva me trazer o que me é destinado. Amém.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

[REMEDIADO ESTÁ]


Menos
Medo.
Há tantos anos
na estrada da vida
e ainda me preciso concentrar mais
em menos
medo.

Um medinho inofensivo pode ficar.
Mantendo a minha ambição,
minha indecisão.
Marcando os lugares meus
onde me divido.

Mas menos dos medos que
os anos incutiram,
que os outros destinaram a mim.
Aqueles que chegaram na minha tristeza
e falta de atenção.

Esses não.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

[ENTÃO ENFIM]


Há vários sinaizinhos
de que o amor vem,
ou ali está,
ou um dia vai acontecer.

Os meus eu soube estarem ali
porque o meu espírito,
em pouco tempo,
no amor do outro
descansou.

 Não houve noites
sem dormir.
Não houve medo
de doar demais.
 Houve um ritmo
 mais apropriado.
Um bom jazz inspirado.
Com notas graves
e cadência fácil
de digerir.
Fortes de beleza.
 Sustenidos de transição.
Não houve senão.

Só então.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

[DIREITA EXISTÊNCIA TORTA]


Não coube o amor em mim,
cozinhei.
Minha primeira torta,
crescida e fofa
Crocante nas beiradas,
solvente nas entradas.

Não te pude dizer nessas palavras
desse caminho que em mim terminou manso.
Penso,
 olho,
 vejo
e me lanço
no que em mim te faz sempre voltar
pro nosso lar
sorrindo
recontando coisas que já ouvi,
repetindo músicas cujas letras não sei.

Você me dá do velho e do novo
de hoje e amanhã
do antes de mim e do que agora vamos vivendo devagar
sem pressa de o tempo passar,
Querendo que viver no presente
tenha esse sabor quente e solvente

da primeira torta de nossas vidas.

sábado, 5 de outubro de 2013

[GENTILEZA]


Palavra boa, linda leve. Palavra que flui. Só flui na vida o que vem fácil, de dentro, ou do que a gente chama do âmago. Ela apenas se move de dentro pra fora. E recebê-la inspira doá-la. Como doá-la inspira a possibilidade da troca.


Pode vir no silêncio. Pode ser carregada no olhar. As palavras a podem selar. Quem a busca na vida, quer ser mais vivo. O amigo que quer mantê-la é mais amigo. Com ela tudo brilha mais e reverbera melhor. Karma para o bem, para o zen, pra quem tem.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

[OU É VOCÊ, OU O MUNDO É DOCE POR ACASO.]


Depois de ter movido meu mundo do meu quarto, tão cansada estava que dormi andando e babei falando dos planos. Por acaso o sol quente me causou lapsos de memória. E o chão quente calos no pé. Ando desligando as coincidências, entregando pontos. E por entre os pontos, pleitos; por entre os pleitos, pulos; por entre os pulos, panos; por entre os panos, peitos.

Pra você, um lugar no meu sonho.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

[SOBRE O CONSCIENTE]


Hoje sonhei que eu estava grávida ,
muito gravidíssima de você.
Mais grávida do que estive em sonhos de outrora.
Essas grávidas que só falam da sua hora.
Da impaciência com a demora.
Eu era dessa grávida que chora,
por causa do filme materno
Que me consta com a minha mãe.

Qualquer lembrança me doía comedidamente
Não me deixava descansar a mente.
Sofri um pouco sem quem se identificasse
Confusa do teu lado, querendo que o parto
fosse logo e nunca
Ansiosa pelo 360 na nossa vida
Que o parto de fato
fosse partir para o ato
deixar a fase de agora
desbravar os novos lugares
ares
dores.

Mas acordei
e aqui continuo a querer

partir.

domingo, 22 de setembro de 2013

[DIAS E DIAS]

Lugares comuns para minhas rimas
Rumos ruins nos meus dias
Rotina que se repete até no som.
Horários para sonhar
Dias para dividir
Tarefas listadas

Na porta da geladeira a me perseguir.

sábado, 21 de setembro de 2013

[CRER PARA VER]

Que medo da minha fé, que medo. Que medo. Que de vê-la existir, não me digam a verdade. Que de sabê-la, eu me deleite em qualquer modo de vida. Que não creiam, ao percebê-la, que cresci. Que tão forte eu me sinta ao senti-la que não me esforce mais nos detalhes básicos do meu ser que preciso endireitar. Que de tê-la, não me incomodem os meus defeitos. Que não a vendo nos olhos alheios, eu não me conecte. Que de viver por ela, eu não me oriente no mundo que na verdade é mais pitoresco que lindo. Mais injusto que liberalista. Mais dos que mais têm do que dos que se importam. Uma pausa, minha fé. Para o meu café.

sábado, 17 de agosto de 2013

[SAMBA SEM SOM]

Estou escrevendo num caderno. Pautas distantes das extremidades, canetas coloridas, não tenho mais medo de rabiscar. Nem medo de mim há. Já estou naquela idade em que se perde um pouco da vergonha, em que é possível amar a si mesmo sem rodeios, cobranças ou recalques.

 Acordo cedo, ligo a tevê, ouço as notícias e penso no que escrever nesse caderno. Ando tão em dúvida sobre coisas básicas do meu ser. Com uma estranha saudade de quando eu lavava roupa na mão e pensava em milhões de coisas indizíveis, e aquele era momento de sagrada reflexão, de lembrar as melhores músicas de Gil, de chorar comigo mesmo cantando-as fora do tom. Quando o tempo não me era escasso e eu vivia daquele jeito que Maury disse que Clarice receberia sua carta, “sonhando em plena luz do dia”.

Agora sonhar envolve tantas coisas diferentes. Tantas coisas desse mundo. Queria que viver em paz ainda fosse sentar à mesa para comer com os seus. Viajar pra bem pertinho com as crianças, pic-nics na estrada, jogos de palavras do banco da frente pro banco de trás. Mas é esse mundo que me faz querer mais e me sentir mais pequeno. Tenho medo desse veneno, medo de voltar atrás em tudo que sei ser o que sou. De seguir adiante, mas sem rumo. Confusão eu não arrumo. Mas também não peço arrego. 

sábado, 10 de agosto de 2013

[DESCOBERTA]

Tanta coisa em mim
nasceu pra ser poema.
Essa saudade que eu tenho
dos anos sessenta que nem vivi
do meu avô preto que não conheci
do próximo destino onde vou ir.

Eu nem acredito de ver,
eu nem creio crescer
em mim a vontade de também ser versos
mas canto quando ninguém vê
no meu canto, enquadrada
querendo secretamente que os meus anseios ecoem
que a minha voz vá longe
junto com essa saudade

mas vá  e volte pra mim.