Não sei o
nome do meu anjo, mas sei que ela existe. E é mulher. Pra mim é meio que
espelho, nem feio nem bonito, apenas podendo refletir tudo o que eu sou e do
que me aproprio. Meu anjo incansavelmente trabalha. Muito frequentemente me diz
em palavras mais angelicais que as minhas que “poderia ser pior”. É tão
estranho estar na cozinha batendo ovos para o omelete e escutar de repente meu
anjo me dizendo isso, palavras que chocam de frente com meus pensamentos – longe
das chamas do fogão. É um embate que chega a ser injusto, porque minha
indecisão, tristeza, dúvida, cansaço nunca tem chance de ganhar. Sentimento que
fica estatelado ali no peito, com cara de pouco, com cara de bobo, com cara de
que não merece atenção. Então eu sigo pensando em coisas melhores, lembrando de
dias mais lindos, lendo coisas que me elevam a consciência, vendo o mundo
através. Mas o mau agouro não me deixa um dia. E sempre vem bater ali, no mesmo
lugar, fazendo cansar, às vezes chorar, mas nunca preparado pra o que diz o meu
anjo. Pra o que nele faz de mim, um eu de músculos, carne, osso e pele,
poderoso em si, sem nem saber a quem deve a graça de ser feliz.
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